Consumo de alimentos segundo o grau de processamento, fatores sociodemográficos, estilo de vida e risco cardiometabólico entre usuários da Atenção Primária à Saúde no município de Guidoval-MG

Abstract

O objetivo foi investigar a relação do consumo de alimentos segundo o grau de processamento com fatores sociodemográficos, de estilo de vida e de risco cardiometabólico entre usuários da Atenção Primária à Saúde no município de Guidoval-MG. Trata-se de um estudo transversal realizado com adultos e idosos atendidos pela Unidade Básica de Saúde e Estratégias Saúde da Família. Para a coleta das informações foi aplicado um questionário semiestruturado com informações de identificação, dados sociodemográficos, antropométricos, condições de saúde autorrelatadas e um questionário de consumo alimentar qualitativo. As análises estatísticas foram realizadas no software SPSS ® versão 20.0 e no STATA versão 13.0. Foi adotada uma significância estatística (α) de 5%, sendo todos os testes de hipótese propostos em nível bilateral. As características sociodemográficas e de estilo de vida foram apresentadas em valores relativos e absolutos; para a comparação de proporções foi utilizado teste qui-quadrado de Pearson ou teste exato de Fisher. Foi utilizada regressão de Poisson com variância robusta para investigar como o consumo regular de itens alimentares in natura e ultraprocessados, ambos acima do percentil 50, poderiam estar associados a variáveis explicativas. A Regressão de Poisson também foi utilizada para estimar RP e respectivo intervalo de confiança de inadequação de parâmetros cardiometabólicos de acordo com a padrão alimentar (utilizou-se o cluster 1 como referência). Após a análise univariada foi empregado um modelo de ajuste por sexo, idade, atividade física e classificação socioeconômica. Participaram 361 indivíduos adultos e idosos, com média de idade de 48,47 ± 16,0 anos. Foram encontradas associações entre consumo de alimentos ultraprocessados e in natura e minimamente processados com variáveis sociodemográficas e de estilo de vida, sendo maior consumo de alimentos ultraprocessados entre residentes da zona urbana e negros; e menor consumo desses alimentos entre indivíduos casados e viúvos, e aqueles pertencentes ao estrato socioeconômico B2. Em relação aos alimentos in natura e minimamente processados, foi encontrado menor consumo entre negros e não praticantes de atividade física; e maior consumo entre indivíduos com maior grau de escolaridade. Foi verificada também elevada prevalência de indivíduos com excesso de peso (60,94%) e perímetro da cintura alterado (76,18%). Além disso, foram obtidos 2 padrões alimentares utilizando-se técnica Two-Step Cluster (TSC), porém não houve associação desses padrões com fatores de risco cardiometabólico após ajuste por sexo, idade, prática de atividade física e classe socioeconômica. Concluímos que fatores individuais e contextuais como local de residência, cor de pele, estado civil, status socioeconômico, escolaridade e prática de atividade física se associaram ao consumo de alimentos ultraprocessados, in natura ou minimamente processados. Tais fatores associados à elevada prevalência de fatores de risco cardiometabólico encontrada nesse estudo sugerem a necessidade de maior intervenção em grupos populacionais específicos, ressaltando a importância da adoção de uma alimentação saudável. Palavras-Chave: Atenção Primária à Saúde. Consumo de Alimentos. Alimentos Industrializados. Fatores Socioeconômicos. Alimentos Integrais. Doenças Cardiovasculares.

The objective was to investigate the relationship of food consumption according to the degree of processing with sociodemographic, lifestyle and cardiometabolic risk factors among users of Primary Health Care in the municipality of Guidoval-MG. This is a cross-sectional study conducted with adults and the elderly assisted by the Basic Health Unit and Family Health Strategies. To collect the information, a semi-structured questionnaire with identification information, sociodemographic and anthropometric data, self-reported health conditions and a qualitative food consumption questionnaire was applied. Statistical analyzes were performed using SPSS ® software version 20.0 and STATA version 13.0. Statistical significance (α) of 5% was adopted, with all hypothesis tests proposed at a bilateral level. Sociodemographic and lifestyle characteristics were presented in relative and absolute values; Pearson's chi-square test or Fisher's exact test were used to compare proportions. Poisson regression with robust variance was used to investigate how regular consumption of fresh and ultra-processed food items, both above the 50th percentile, could be associated with explanatory variables. Poisson Regression was also used to estimate PR and respective confidence interval for inadequate cardiometabolic parameters according to the food standard (cluster 1 was used as a reference). After the univariate analysis, an adjustment model by sex, age, physical activity and socioeconomic classification was used. 361 adult and elderly individuals participated, with a mean age of 48.47 ± 16.0 years. Associations were found between consumption of ultra- processed and fresh foods and minimally processed with sociodemographic and lifestyle variables, with higher consumption of ultra-processed foods among urban residents and blacks; and lower consumption of these foods among married and widowed individuals, and those belonging to the socioeconomic strata B2. In relation to fresh and minimally processed foods, less consumption was found among blacks and non-practitioners of physical activity; and higher consumption among individuals with a higher level of education. There was also a high prevalence of individuals with overweight (60.94%) and altered waist circumference (76.18%). In addition, 2 dietary patterns were obtained using the Two-Step Cluster (TSC) technique, but there was no association of these patterns with cardiometabolic risk factors after adjustment for sex, age, physical activity and socioeconomic class. We concluded that individual and contextual factors such as place of residence, skin color, marital status, socioeconomic status, education and physical activity were associated with the consumption of ultra-processed, fresh or minimally processed foods. Such factors associated with the high prevalence of cardiometabolic risk factors found in this study suggest the need for greater intervention in specific population groups, emphasizing the importance of adopting a healthy diet. Keywords: Primary Health Care. Food Consumption. Industrialized Foods. Socioeconomic Factors. Whole Foods. Cardiovascular diseases.